Eu sou o tipo de pessoa que gosta sempre de saber o melhor possível que chão estou a pisar, que caminho sigo, que opções tenho… enfim, no fundo, de controlar minimamente o que vai acontecendo, prevendo o que aí vem, contando até já com um ou outro possível desvio que possa acontecer. Quando saio para uma viagem de carro levo sempre o melhor caminho estudado, se vou a algum sítio que não conheço saio mais cedo de casa para não correr o risco de me atrasar a procurar o lugar, se vou comer a um sítio novo dificilmente arrisco comer um prato que não conheça bem. Por isso, é sempre difícil quando sinto que não controlo algum aspecto da minha vida.
De há algum tempo para cá, sinto que não controlo grande parte da minha vida. Isso nem sempre é necessariamente mau… mas traz, inevitavelmente, grandes doses de ansiedade.
Não sei onde vou estar amanhã. Não sei com quem vou estar. Não sei como vou estar. Não sei como vou lá chegar. Mas o exercício, nos últimos tempos, tem sido o de não dar demasiada importância a isso… de confiar… de acreditar… de ir vivendo o que a vida vai colocando no caminho, um passo de cada vez… de arriscar mais, de vez em quando, mesmo quando depois acabo por bater com o nariz na parede… de não me massacrar por as coisas não acontecerem como eu sonhei e idealizei… de não deixar de acreditar ou simplesmente desistir, por não ter do outro lado a resposta que mais esperava ouvir.
Se a minha vida parece, cada vez mais, não ter grandes semelhanças com o que eu sempre idealizei para ela… então tenho simplesmente de aprender a viver a que me aparece pela frente!
Andamos todos em busca de algo. Nem sempre sabemos bem do quê, mas continuamos a procurar. A cada dia há algo que nos faz acordar e encarar o dia, como se fosse mais um passo a caminho de algum objectivo, esteja ele perfeitamente definido ou não… E ao atingirmos uma dessas metas, rapidamente começamos a vislumbrar no horizonte outras novas para almejar.
É difícil contentarmo-nos com o que temos. Não só pela tendência natural de querer ir mais longe, mas também porque acontece frequentemente confundir esse contentamento com acomodamento, com falta de objectivos, com desleixo, com falta de ambição.
No fundo, queremos que tudo seja perfeito, que a nossa vida seja perfeita. Queremos o emprego perfeito, a casa perfeita, a cara-metade perfeita, os filhos perfeitos, o aspecto perfeito. Mas esperem… o que é isso de algo ser perfeito? O carro tem de ter as características ABC? Mas amanhã já vai sair um com ABCD! A casa tem de ser XPTO? Mais dia, menos dia vão construir uma com tudo isso e ainda mais… E se com coisas e objectos é relativamente simples ir gerindo este elevar de fasquia dos nossos desejos, aspirações e encantos (nunca como hoje foi tão comum deitar fora e comprar novo), as coisas já se complicam muito quando em causa estão pessoas!
Tem surgido várias vezes em conversas recentes a ideia de que hoje em dia a regra é o divórcio, sendo o casamento por toda a vida a excepção… e que isto está muito ligado ao facto de que as pessoas de hoje não estão dispostas a esforços e concessões, pois estão desde sempre habituadas a uma “liberdade” que significa fazer apenas o que se quer, o que dá mais prazer, o que se gosta mais, o que não exige grande esforço, compromisso ou trabalho. Não quero de maneira nenhuma parecer moralista (até porque obviamente estas coisas são bem mais fáceis de se dizer do que de fazer), mas essa nossa eterna busca por algo mais perfeito também passa cada vez mais pelas relações. Relações essas que têm cada vez mais por base o mesmo princípio da compra de um carro: se não gostar muito, se der problemas ou se me fartar, troco!
Então isso quer dizer que se deve insistir indefinidamente em algo que não funciona? Não, ninguém está a dizer isso… Mas que é feito das segundas oportunidades a que, supostamente, todos temos direito?
Às vezes chegamos a situações em que somos confrontados com a necessidade de tomar decisões e fazer opções difíceis. Muitas delas irão decidir irremediavelmente o decurso da nossa vida daí em diante, sendo o nosso futuro absolutamente diferente consoante a opção tomada. E a verdade é que (na esmagadora maioria das vezes) não é muito claro perceber qual delas é a melhor para nós. Até porque há quase sempre uma tendência natural para que uma parte de nós se incline para um lado e outra para outro lado. Talvez uma possa ser, geralmente, vista como a tal busca por algo mais, por uma certa perfeição (o que nem sempre implica sequer que exista mudança!), enquanto a outra seja mais relacionada com algo que, não sendo de todo perfeito, sentimos que nos poderá completar e realizar mais.
Então… onde acaba a busca incansável pela indefinível “coisa perfeita” e começa o aceitar do que nos torna mais inteiros, mais completos, como bênção e como algo perfeito… para nós!? Por muito trabalho que isso implique ou por difícil que seja de concretizar!