1. Nada nesta vida é seguro. Já não há apostas certas, garantidas, sem riscos. Quando se arrisca, ganha-se ou perde-se, não há empates simpáticos em que podemos simplesmente encolher os ombros e dizer “ah, para a próxima corre melhor”. E o mesmo acontece quando se fazem escolhas.
2. Não sei se o sentimento é geral, mas eu tenho uma certa tendência a evitar um pouco o que é desconhecido, imprevisível. Tudo o que fuja ao meu controlo (real, percepcionado ou simplesmente sentido, por saber com o que contar) é muito difícil de gerir a nível emocional e, por isso mesmo, existe uma inclinação natural para a rejeição, ou para dizer “era capaz de ser bom… mas aqui no cantinho que eu conheço bem é mais seguro!”.
3. Há decisões ou opções que tomamos, que acabam por não ser muito mais que simbólicas. Isto acontece porque, por muito que as tomemos, em última análise não depende de nós (ou não depende só de nós) fazer com que o que elas preconizam se torne realidade. Eu posso decidir que amanhã vou comer caviar… mas se não tiver dinheiro para o comprar, simplesmente não vou poder comê-lo! Então de que me serviu tomar essa decisão? Bom, no caso do caviar, não serviu de grande coisa, mas há outras situações em que, por improvável que seja a concretização da decisão, há uma necessidade intrínseca de fazer essa opção. Podemos dizer que é algo do estilo de uma “decisão moral”. Serve, antes de mais, para separar as águas e saber por onde nos guiamos… Talvez um pouco como alguém que olha para um mapa, sem saber ainda muito bem que caminho usará para chegar ao seu destino, mas que tem de perceber ao menos que caminho deve evitar: não tem a garantia de que vai escolher o melhor caminho, ou o mais rápido (nem até de que o carro tem gasolina suficiente para a viagem, ou que vai sequer pegar!), mas toma a decisão de que, se for, terá de ir algures naquela direcção!
(ufa, que isto de fazer um post que parte de três premissas diferentes é cansativo! Respirar fundo… então vamos lá à tentativa de conclusão!)
No que toca a “decisões morais”, sinto-me muitas vezes inclinado a fazer a opção mais arriscada, menos conservadora… talvez por pensar que dificilmente se concretizarão. Se as tentar tirar do plano teórico e concretizá-las (ou imaginá-las concretizadas), volto a questionar-me se não seria melhor deixar-me de “aventuras” e voltar ao que conheço bem (mesmo que essa opção não ofereça, aparentemente, grandes vantagens ou grandes melhorias ao estado actual das coisas).
Mas talvez seja agora ou nunca a altura de ir pelo risco… Um risco talvez demasiado elevado, tendo em conta as baixíssimas hipóteses de concretização. Mas, ainda assim, um risco que pode valer muito a pena. Mas custa sempre tanto deixar o cantinho a que estamos habituados… (já dizia o outro: “I miss the comfort in being sad”… até a tristeza pode ser um lugar confortável, de vez em quando!).
Enfim, como alguém me disse há poucos dias, talvez esteja na altura de me “focar”!
P.S. (já fora de contexto): Valeu mesmo a pena ter saído de casa, ainda um pouco adoentado, para ir ver Brandi Carlile ontem à noite… Concerto absolutamente magnífico! Pena ter sido tão curtinho, mas foi simplesmente irrepreensível. Fantástica voz, grande canção 100% acústica numa sala daquele tamanho, grande público, grande “The Story”, grande "Creep" (Radiohead), enorme “Folsom Prison Blues” (Johnny Cash) e monumental “Hallelujah” (Jeff Buckley). Perfeito!