Andamos todos em busca de algo. Nem sempre sabemos bem do quê, mas continuamos a procurar. A cada dia há algo que nos faz acordar e encarar o dia, como se fosse mais um passo a caminho de algum objectivo, esteja ele perfeitamente definido ou não… E ao atingirmos uma dessas metas, rapidamente começamos a vislumbrar no horizonte outras novas para almejar.
É difícil contentarmo-nos com o que temos. Não só pela tendência natural de querer ir mais longe, mas também porque acontece frequentemente confundir esse contentamento com acomodamento, com falta de objectivos, com desleixo, com falta de ambição.
No fundo, queremos que tudo seja perfeito, que a nossa vida seja perfeita. Queremos o emprego perfeito, a casa perfeita, a cara-metade perfeita, os filhos perfeitos, o aspecto perfeito. Mas esperem… o que é isso de algo ser perfeito? O carro tem de ter as características ABC? Mas amanhã já vai sair um com ABCD! A casa tem de ser XPTO? Mais dia, menos dia vão construir uma com tudo isso e ainda mais… E se com coisas e objectos é relativamente simples ir gerindo este elevar de fasquia dos nossos desejos, aspirações e encantos (nunca como hoje foi tão comum deitar fora e comprar novo), as coisas já se complicam muito quando em causa estão pessoas!
Tem surgido várias vezes em conversas recentes a ideia de que hoje em dia a regra é o divórcio, sendo o casamento por toda a vida a excepção… e que isto está muito ligado ao facto de que as pessoas de hoje não estão dispostas a esforços e concessões, pois estão desde sempre habituadas a uma “liberdade” que significa fazer apenas o que se quer, o que dá mais prazer, o que se gosta mais, o que não exige grande esforço, compromisso ou trabalho. Não quero de maneira nenhuma parecer moralista (até porque obviamente estas coisas são bem mais fáceis de se dizer do que de fazer), mas essa nossa eterna busca por algo mais perfeito também passa cada vez mais pelas relações. Relações essas que têm cada vez mais por base o mesmo princípio da compra de um carro: se não gostar muito, se der problemas ou se me fartar, troco!
Então isso quer dizer que se deve insistir indefinidamente em algo que não funciona? Não, ninguém está a dizer isso… Mas que é feito das segundas oportunidades a que, supostamente, todos temos direito?
Às vezes chegamos a situações em que somos confrontados com a necessidade de tomar decisões e fazer opções difíceis. Muitas delas irão decidir irremediavelmente o decurso da nossa vida daí em diante, sendo o nosso futuro absolutamente diferente consoante a opção tomada. E a verdade é que (na esmagadora maioria das vezes) não é muito claro perceber qual delas é a melhor para nós. Até porque há quase sempre uma tendência natural para que uma parte de nós se incline para um lado e outra para outro lado. Talvez uma possa ser, geralmente, vista como a tal busca por algo mais, por uma certa perfeição (o que nem sempre implica sequer que exista mudança!), enquanto a outra seja mais relacionada com algo que, não sendo de todo perfeito, sentimos que nos poderá completar e realizar mais.
Então… onde acaba a busca incansável pela indefinível “coisa perfeita” e começa o aceitar do que nos torna mais inteiros, mais completos, como bênção e como algo perfeito… para nós!? Por muito trabalho que isso implique ou por difícil que seja de concretizar!